sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O riso se apagou..

O aluno bateu na porta, pediu licença e entrou atrasado para a aula. Ele sentou em uma das cadeiras na primeira fila. Os risinhos começaram.
Algumas pessoas na frente cochichavam baixinho ou trocavam bilhetinhos e cotoveladas. No meio da sala eles já eram menos acanhados, sorriam meio calados e apontavam para o aluno estranho que acabara de entrar. Já a galera do “fundão” se manifestava expressamente, sorriam em gargalhadas e faziam suas piadas sem graça. Ou seja, o atrasado era o bobo da sala.
Sempre que levantava a mão; professor, tenho uma dúvida.... A festa começava. A turma ria em coro, sem ligarem para a ética diante dos amigos.
Levantava a mão outra vez; Professor gostaria de comentar esse assunto... E era outra festa.
Na verdade, ele talvez nunca tenha percebido que era o palhaço da turma, ou talvez soubesse desde sempre e fingia não saber. Não ligava muito para nós, reles mortais que se importavam mais com a vida alheia que com as nossas.
Certa vez a turma soube que ele estava com problemas, mas não o pouparam das brincadeiras. Fizeram de seus males os risos da semana.
Acho que ele morava só; não tinha namorada, e nunca se juntava com nós, para qualquer tipo de evento.
Era sempre solitário. Sempre calado.
Em uma sexta-feira, durante a aula, ele não disse nada, não falou com ninguém, não perguntou nada ao professor, simplesmente entrou e saiu sem dar o menor sinal de sua presença.
Na semana seguinte ele faltou à segunda-feira. Na terça, idem.
Quarta, o inspetor entrou calmo e rasteiro para dar um recado à turma. Disse secamente:
- infelizmente, o aluno, ............., sofreu um acidentem no sábado de madrugada e não resistiu aos ferimentos. Morreu a caminho do hospital. (continuou)
- Segundo o laudo da perícia, ele estava embriagado quando invadiu uma preferencial e foi atingido por um carro. O corpo foi enterrado domingo à tarde.
Ninguém disse nada, todos ficaram pensativos. Nessa semana a turma não foi feliz, não houve risos.